quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Roads, Portishead

The Only Exception, Paramore

Are you the only exception?


My 1st car service


Os carros são inteligentes que se fartam!
Começam a avisar com certa antecedência que precisam ir ao doutor, ora porque lhes falta óleo, ora porque precisam de umas análises gerais (leia-se revisão).
O organísmo humano devia ser assim, ter um apito a dizer: "Olha que faltam x dias para ires à revisão".
Certamente não esqueceriamos que, de vez em quando, convém fazer um checkup periódico.
O meu bólide avisou-me antes do Natal que precisava ir ao doutor.
Confesso que fiquei ansiosa, sabe-se lá o que lhe vão fazer.
E se lhe descobrem algum mal?
Nós humanos, às vezes vamos ao médico cheios de saúde e saímos de lá com um rol de doenças e uma saca de comprimidos coloridos...
É verdade que também me pus logo a fazer contas à vida. É bem cara a medicina automóvel!
Chegou o dia...
Lá acordei de madrugada, e sem depertador, a pensar que hoje ficava longe do meu fiel amigo: Cláudia's Mobile.
Fui pelo caminho a dizer o quanto gostava dele e que não tivesse medo. Ia certificar-me que o tratavam bem.
Percebi o seu receio (ou o meu). Cheguei, vi os médicos de batas azuis. Umas limpas mas outras não disfarçavam bem o sangue negro dos que lhes passaram pelas mãos.
Senti o mesmo frio no estômago que sinto com o cheiro de hospital.
Despedi-me dele. Disse-lhe: "Vais sentir-te melhor depois disso. Até vais vir lavadinho e cheiroso como eu."
Entreguei a chave à senhora.
"A que horas posso vir buscar? A que horas?" - estou certa que percebeu a minha urgência.
"Mas veem se está tudo bem, não veem?"
"E se ele estiver doente, liga-me?"
"Venho logo a correr."
A senhora deve ter percebido o quanto ele era importante para mim. Tomou-se por aqueles donos chatos e picuinhas que querem ter a certeza de tudo. Até insistem para entrar e acompanhar a revisão.
Foi então quando me disse:
"Quer ver os orgãos, as artérias e veias que vamos trocar?"
"Prefiro não ver, prefiro não ver." - disse eu.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sunset seen from the sky

domingo, 26 de dezembro de 2010

Bucket List / Say, John Mayer

do filme com titulo em portugal Nunca É Tarde Demais

Tenho a aprendido que a felicidade consiste numa colecção de pequenos momentos em que nos sentimos felizes.
Muitas vezes são momentos em que fazemos os outros se sentirem bem, momentos em que os outros nos enchem a alma.
Mas ainda que tenhamos noção desses sentimentos, não falamos sobre eles! Que vergonha! Seria dar parte fraca! Seria nos expor!
Há culturas mais abertas a isso, nós Portugueses não!
Por não ter receio que dizer à minha melhor amiga que a amo, de dizer ao meu irmão que ele é a paixão da minha vida ou de mostrar a minha estima às pessoas que me são queridas, muitas vezes sou mal interpretada!
Então se for homem, logo se apregoa que "ando".
Mas é preciso ter coragem e continuar a ser fiel a mim própria.
Ontem fiquei feliz de saber que existem outras pessoas como eu, que não têm vergonha de mostrar amizade e estima.
Se todos fossemos assim, haveria menos guerrilhas no Mundo!

Ontem encheste-me a alma.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Atonement

mais conhecido por Expiação.

Great Expectations

My Blueberry Nights / The story, Norah Jones

From the movie My Blueberry Nights

Um enólogo diferente


Por esta altura muito se come e muito se bebe.
Exageros com fartura para o terror de qualquer um!
Nutricionistas bezem-se com a mão canhota tentado exorcizar o demónio de 7 cabeças. Cabeça do óleo que dá cor a rabanadas e sonhos, cabeça do azeite onde boia o bacalhau, cabeça do álcool ora tinto ora doirado, cabeça dos chocolates nas pratas coloridas, cabeça dos frutos secos com pele de saudáveis, cabeça cristalizadas frutas dos bolos rei e a cabeça do sal disfarçado de aperitivos.
Todos nós queremos ter em casa a maior variedade possível para agradar a visitas gregas e a visitas troianas.
Queremos qualidade e singularidade, o melhor bombom suiço ou o mais prestigiado vinho.
Este ano minha mãe escolheu para a ceia de Natal uma reserva de 2007 de um afamado vinho do Douro.
Comprou 6 garrafas a um bom preço cada e veio toda contente para casa mostrar o bom negócio que tinha feito.
Meu irmão logo disse: "então e só compraste 6?!? por este preço, devias ter trazido mais!"
"tens razão! ainda que não se beba nessa noite, fica para irmos bebendo."
e saiu apressada para regressar à loja onde tinha feito a grande aquisição.
"acabou de esgotar" - disse o empregado de avental branco sujo e sorriso rasgado.
"mas ainda agora sai daqui e havia mais" - retorquiu minha mãe.
"essa genta gosta de coisa boa, senhora." - desabafou o empregado.
"mas vá outra loja, pode ser que haja."
Arrancou acelerada. E se chegasse a casa sem mais garrafas? e se..?
Duvidou de tudo, até desconfiou que a 1ª remessa não ia chegar para a ceia.
Mal entrou, vislumbrou-as ao fundo. Eram tantas, estava salva. A missão seria bem sucedida.
E eis que olhou para o topo da pirâmide onde a cartolina verde eléctrico fazia o preço parecer mais bold.
Mas... mas... o preço! O preço já não era o mesmo. Estava inflacionado. Já teria o novo iva, os novos aumentos de 2011?
Abordou o primeiro empregado que viu.
"na outra loja 'tava mais barato q'aqui!
sabes qual éo que 'tou falando? era o de 2007.."
"oh senhora, mas então isso já aos anos que foi! ainda queria que houvesse!!"

Before Sunset / Just in time, Nina Simone

Ouvi pela primeira vez no filme Before Sunset, com Ethan Hawke e Julie Delpy.

http://www.youtube.com/watch?v=RhqOHFUYtzI

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Bomba armadilhada


Ontem foi dia de mais uma viagem.
Já lhes perdi a conta... teria sido interessante contabilizá-las, ver as milhas que já tenho e as horas de voo.
Embora deteste aeroportos, pois para mim representam despedidas, eles também me transportam para imensas estórias engraçadas.
Após o 11 de Setembro a diferença na segurança foi brutal! Só espero que não cheguem a Portugal os scanners. Os pneus de toda a gente serão colocados a nú, não haverá cinta ou espartilho que nos esconda.
Por agora, chegam os Rx à bagagem de mão e os pórticos de detectores de metais.
Ontem estive em dia CSS e portanto estava de sapatilhas e jeans. Não precisei de descalçar, tirar cintos, pendentes e demais acessórios. Não houve a emoção de me mandaram afastar pernas e braços para me revistar.
À minha frente um casal pelos seus 60. Ele de boina e ela com xaile. Certamente de alguma aldeia do Norte do país e em viagem para visitar filhos e netos. Não escondiam a sua felicidade e os seus rostos espelhavam a ansiedade do reencontro.
"Oh homem, tira o cachecol! O polícia quer passar tudo por essa máquina."
E ele obediente tirou e colocou na caixa junto dos outros pertences.
"A senhora tem uma garrafa na mala, não pode seguir. Ou fica aqui ou bebe."
"Ai senhor acabei de a comprar por uma fortuna de dinheiro."
E lá empinou a garrafa engolindo de uma só vez os 33cl de água!
"Esta já vai na barriga!" - disse ela satisfeita de não ter perdido a pequena fortuna que tinha dado pela água.
Há uns 10 anos atrás, parece que os pórticos eram menos potentes ou não usavamos tantos metais na roupa! Era raro aquilo apitar e quando isso acontecia, eram lançados olhares de indignação pelos outros passageiros. Quase como quem está no shopping e ao sair de uma loja, o saco apita.
Certo dia, no Porto, fiz disparar o detector. Aflita olhei para o polícia à espera de uma reacção. Certamente seria revistada! (e na altura não havia a polícia mulher :) )
Olhou para o colega e disse:
"Deixamos passar, não achas? Se for uma bomba está tão bem armadilhada!"

The Closest Thing to Crazy, Katie Melua

sábado, 27 de novembro de 2010

Sair da zona de conforto

A 2ªgrande batalha da semana era já esperada há umas semanas. Havia uma ansiedade enorme dentro de mim.

Chegou o dia, chegou a hora e lá estive.

Fiz perguntas parvas e afirmações piores.

Nessas alturas deviamos engolir um dicionário para as palavras não faltarem e beber uma dose de desentupidor de canos para fluirem sem engasgos.

A certa altura o meu interlocutor deve-se ter apercebido que eu não estava nada contente com isso de me puxarem o tapete e lançou algo tipo cliché mas com muito que se lhe diga:

"é preciso sair da zona de conforto"

Eis algo fundamental nos dias que correm, deixou de haver espaço para pessoas conformadas, monocórdicas por melhor que seja o seu dó.

Querem-se pessoas que ciclicamente se inconformem e desejem outro nível de entropia para dominar e organizar.

Apesar de ter um medo de morte de cair na categoria dos monotons e portanto, estar condenada por esta frase, não posso deixar de lhe achar piada e sentido.

Realmente, se pensarmos bem: serão vencedores os ousados ou os acomodados?

Dia de cabeludos


Acordo de uma espera interminável com a manifestação de descontentamento de alguém que partilha comigo a sala. Esta estava cheia de pessoas de meia idade que encaixam sem pôr nem tirar em figuras de domésticas e camponeses. Consigo ver no rosto de uma delas a preocupação da hora de almoço a aproximar-se. Neles, a falta do tabaquito aumenta-lhes a velocidade e o número de vezes que percorrem o pequeno corredor, dando mais voltas sobre si próprios que as bailarinas de uma caixa de música.

"3 na pá!"

"3!" - afirmava ele num misto de fúria com desprezo.

Olho em frente, vejo o Jorge Jesus na televisão e percebo que está a comentar a notícia do jogo do Befica. Mais uma derrota para a Liga dos Campeões 2010/11.

"Cabeludo, és um cabeludo pá!"

"Só tens mesmo é cabelo home, mai nada!" -cuspia cá para fora como se estivesse a morrer de nojo da criatura.

À minha esquerda, uma senhora de cabelos longos untuosos e bibe, olha de lado para ele. Na cabeça dela estavam 1000 promessas que mais um insulto e salta-lhe em cima.

Salvos pela chamada para a consulta. Desfez-se o clima tempestuoso.

Mas eu ainda mal sabia o que me esperava... mais encontros com cabeludos.

Porque no Centro de Saúde só temos 1/2 hora de urgências e nem sempre conseguimos que as nossas doenças tenham a pontualidade necessária, dirijo-me para uma clínica privada.

Após mais uma longa espera, mas desta vez tranquila, encontro o cabeludo mais engraçado do dia - o médico.

Com cabelo grisalho, maior e mais volumoso do que o do J. Jesus, ainda poderia competir com este pela disputa de um 1ºlugar numa edição qualquer de cabelos Pantene para homens maduros.

Andava em bicos de pés e parece que saltiva pelo consultório enquanto eu repetia os meus males.

Mas estava condenada, aliás como quase sempre estou quando após proferir a 1ªpalavra identificam as minhas origens.

Lá passamos a minha consulta a ouvir a vida dele. Os anos que viveu na minha terra, os amigos que lá deixou , os paises que conheceu e que não se comparam...

"Sim, porque eu conheço o Mundo!"

"Por isso, posso afirmar que é o sítio mais lindo do Mundo!"



domingo, 30 de maio de 2010

:(


Algo que não consigo compreender e que me irrita profundamente, é não conseguir atingir os meus objetivos pessoais.

Nunca percebi como sou tão disciplinada no meu trabalho, tão rigorosa e assertiva, quando a nível pessoal venço prazos atrás de prazos e sem cumprir as minhas metas.

É mais que sabido que ninguém consegue ser feliz com realização em apenas uma area da sua vida. Tem de existir um equilibrio entre o trabalho, vida afectiva e vida social.

Se sou bem sucedida profissionalmente, porque não consigo na minha vida pessoal?

Sinto-me derrotada e com vontade de desistir, de nunca mais dar importância.

Na verdade, é uma luta que dura anos demais para conseguir abandoná-la. É algo que já me-é intrinseco. Já o faço sem pensar, já calculo sem equacionar.

A minha revolta e frustração é tão grande que só pedia voltar ao outro extremo desta luta bipolar.

Eu bem tento, mas quando mais tento pior é.

E assim vêm os dias em que eu acho que sou a pessoa menos interessante do Universo.

O amor é...




O amor é...
no meio da multidão, ele reconhecer o meu espirro, sempre!

sábado, 22 de maio de 2010

Buddies 4 ever

Esta semana entreguei a prenda de aniversário ao filhote da minha grande amiga e quando é assim, enche-me a alma.
Começou por apalpar o embrulho e adivinhou logo: "é uma camisola!".
Depois de a ver, expliquei que Buddies 4 ever significava que eu e ele seriamos companheiros para sempre.
Ele riu-se.
Enquanto explicava à mãe que não sabia se teria acertado no tamanho e que dentro do saco havia o talão de troca, ele respondia:
"eu quero esta! Não quero trocar!"
então expliquei que ele podia ser maior que eu tinha imaginado e assim ficaria com a t-shirt curta e com a barriguita à mostra.
"não faz mal, eu visto um casaco por cima a tapar!"

Zequinha, és um amor!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O amor é...

O amor é...

alguém que doa um rim ao marido para que ambos consigam estar juntos por mais uns anos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O amor é...


O amor é...

vir ajudar a mulher a fazer a limpeza na empresa quando ela está cansada ou adoentada.


Se é difícil definir o que é o amor, há gestos e atitudes que testemunhamos e temos a certeza tratar-se de amor!


domingo, 2 de maio de 2010

Coisas complicadas


Existe um café-restaurante aqui com uma longa tradição na vida dos estudantes.

Nunca o frequentei enquanto universitária e continuo a não achar grande piada ao sítio. Mas para satisfazer o desejo de alguém que ougava por uma francesinha de lá, lá fui.

Lá veio o moço, munido de uma toalha de papel numa mãe e ementa no outro sovaco.

Despachado pergunta ele: "o que vão querer?"

"Uma francesinha com ovo, batalhas e molho."

"Uma sopa e uma tosta americana."

"E p'ra beber?"

"Uma cola."

"Uma água."

Como sou louca por cajús e pensado que aquele era um sítio ideal para aperitivos e cervejolas, perguntei:

"Pode trazer uns cajús para irmos picando?"

O rapaz, muito surpreendido, com o mesmo ar de quem foi alvo de uma grande ofensa, olha-me por cima do ombro de alto a baixo e diz-me:

"Aqui não temos essas coisas complicadas.

Só se quiser uns tremoços e amendoins!"


E pronto...

Afinal ainda não foi desta


Afinal ainda não foi desta que o Benfica foi campeão...

Hoje, fiz questão de mostrar a minha cor futebolística. Assim quis ver provavelmente o último jogo de grande interesse da época 2009/2010 e o meu primeiro da mesma época.

Deve ter sido por isso que o jogo não correu como eu e 5 milhões de benfiquistas esperavam.

Vi o jogo numa zona de alimentação de um centro comercial mas não aconselho... apesar de ter esperanças até ao pontapé de saída, não houve som. Depois perde-se aquela mística. Ver futebol tem que ser em tasco com cerveja e tremoços. :)

Por isso bem fizeram uns senhores ao meu lado, foram prevenidos!

Sacaram dos bolsos um saco plástico com tremoços, um com pevides e um vazio p'ra meterem as cascas. Depois foi só comprar os finos :)


Homem prevenido vale por 2!!

Chinelos de morango


Este sabádo consegui concretizar o desejo que tinha já há algum tempo de ver o filme "O rapaz de pijama às riscas".

Longe de mim querer fazer qualquer critica cinematográfica, para isso existem peritos. Apenas posso dizer o quanto a estória é linda, embora nos recorde a crueldade do ser humano e uma época da nossa história que não devia ter acontecido.

O filme começa com uma frase que achei estupenda:

"Childhood is a measured out by sounds and smells and sights, before the dark hour of reason grows " - John Betjeman

É tão difícil encontrar as palavras certas para expressar sentimentos ou situações, mas esta frase consegue-o!

E sobre cheiros da nossa infância estes ficam cá p'ra sempre...


Na minha casa havia um armário na cozinha que se destinava a ser a farmácia da família. Lá podiamos encontrar desde as habituais aspirinas, até às saquetas com papa de giz para forrar o estomâgo da minha mãe ou as cápsulas de óleo de fígado de bacalhau do meu pai. Sim, ele tomava religiosamente as suas cápsulas esperando assim garantir mais uns anitos por cá. Lembro-me de ouvir a minha mãe repetir milhares de vezes: "ah tu não vais morrer! Ficas cá p'ra semente!"

Nessa altura, minha mãe era muito dada à arte culinária e doçaria. Fazia-nos bolos de aniversários que impressionavam qualquer pasteleiro de barrete branco.

Tive um Snoopy, uma Barbie. No Natal haviam sinos ou árvores. O meu irmão teve a cidade dos estrunfes com casinha de cogumelo e tudo, um palhaço e outros tantos.

Creio que numa dessas empreitadas ela deve ter precisado de aroma de morango. Então como não gastou tudo, guardou o fransquinho junto dos remédios.

Desajeitados como são os homens, o meu pai numa das vezes que ia à sua cura milagrosa, derrubou o fransquinho que caiu no chão da cozinha e se partiu em mil niscas.

Ele ainda estava de chinelos, eram aquele modelo clássico que homem que imitam cabedal e por isso ficaram impregnados de aroma de morango.

A partir desse dia, eu e o meu irmão achavamos muita piada aos chinelos do meu pai que cheiravam sempre a morango!

Periodicamente lá iamos snifando os chinelos, mas não havia chulé que lhe pegasse, eles cheiraram sempre a morango até ao fim dos seus dias...

sábado, 1 de maio de 2010

Testamento

Costumo dizer algumas vezes e, pensar algumas mais, que devia fazer o meu testamento.
É certo que tenho poucas coisas, não se trata de um património para dividir, mas queria destinar o que gostaria de deixar a cada pessoa que faz parte do meu mundo.
A minha mãe e os meus amigos acham-me parva e impedem-me.
Talvez só tenha percebido porque fazem isso no dia em que ouvi este anúncio na rádio.
Percebi que o testamento está de certa forma associado aqueles que estão condenados...

... fica aqui um testamento que nos dá muito que pensar.


Não compreendo o mundo


Cada vez que tento actualizar-me querendo saber o passa no Mundo por estes dias, dá-me um nó no cérebro.
Eu não compreendo...
Estamos em crise, as pessoas passam necessidades, mas vamos avançar com as obras para um comboio de alta velocidade.
Na Grécia as pessoas manifestam-se na rua, a polícia lança gás lacrimogéneo. Vejo estas imagens e lembro que foram assim que começaram as guerras.
É verdade, eu não percebo nada de política e nem sequer gosto de discuti-la mas:
Será que ninguém vê que esta grande depressão económica nos poderá levar a uma nova guerra mundial?!?!
Tanto crânios, tantos estudiosos, grandes economistas e gestores a nível mundial e ninguém encontra uma solução?
Que tal meter a cabeça a trabalhar e os neurónios a funcionar?
Que tal deixar de passar os dias a discutir: fazer ou adiar aquela big obra pública e, começar a pensar naqueles que estão a passar fome?
Sou eu que não compreendo nada do mundo ou andam todos cegos?

domingo, 25 de abril de 2010

Dona Dina


Há sítios mesmo pitorescos.
Mas se os locais são feitos de pessoas, certamente este é um deles.
Uma pequena freguesia, local de passagem, meio de viagem, ideal para esticar as pernas e ir ao WC.
Nesta descrição caberiam centenas de freguesias portuguesas, mas não esta.
Esta freguesia vive da vida que ela lhe dá.
Ela que fez daquele sítio, paragem obrigatória, pré-requisito para traçar qualquer itenerário ou até mesmo digno de pequenos desvios na rota estipulada.
Mal ouvi falar dos fabulosos pasteis de nata, melhores que todos os outros, quis lá parar.
A minha delícia foi além daquele creme maravilhoso e massa folhada estaladiça. Mal a vi, abriram-se janelas e comecei a imaginar...
deve ser filha de comerciante, merceeiro talvez. Habituada com sacos de farinha, kilos de arroz, presuntos do tecto, queijo fatiado avulso.
Fala com qualquer um, doutor ou pastor, para todos tem troco.
Uma verdadeira relações públicas como se diz nestes tempos modernos.
Tem braços de padeira, trabalhos pesados não a devem assustar.
A mulher tem um presença fortissíma, domina o balcão e faz sombra a qualquer um naquela sala.
O homem apenas faz por não a contrariar e lá vai ajeitanto os queijinhos para venda.
O filho, uma verdadeira flor, erro de concepção, anedota tendo em conta a natureza da mãe. Certamente sairá ao pai. Branco de bochechas vermelhuscas deixa transparecer insegurança fora da sombra materna.
"Mas para quê encertar outra garafa de Licor Beirão!?!?!?"
"3 que já estão aí! 3! 3!"
"Não vêm nada!!..."
Ela controla, desde o 1ºfreguês que se sentou ao balcão até os tabuleiros que precisam sair do forno.
Deve ser mulher de se levantar às 6h da manhã e deitar-se pela 1h. Aposto que a sua vida é aquela que se vê.
Entram caçadores, alguns com tanta convição como eu. Aposto que uma das motivações de ir à caçada é saberem que param ali para uma bucha.
"Antão já têm coisa que dê para jantar?"
"Hoje estava mau... os tordos fugiam."
"Oh home, ó fugias tu dos tordos?"
"A crise aqui não entra." - diz um dos aspirantes a caçador.
"Oh não entra... Olha-me só para o que está aqui de natas! Ainda não se vendeu um tabuleiro de broas." - maldizia ela da sua vida.
Mas assim que avista uma camioneta de excursão, enche-se com um sorriso que lhe vai de orelha a orelha e esfrega as mãos.
"Trás praqui uns tabuleiros de natas quentes!!"
"Oh Suzete tás pasmada? Põe-te a limpar o balcão!"
"E aquelas mesas? Quem recolhe a loiça?" - orienta ela o seu batalhão.
"São que nem tordos!!" - lança um caçador amador para se referir ao número de natas que saiem por minuto.
Quem me dera ter a energia desta mulher, penso eu.
Passo a viagem a imaginar o nome dela. Só pode ter um nome forte, só um nome assim lhe assenta.
Na vez seguinte afirmei: hoje não saio de lá sem saber o nome da mulher.
E assim foi, ela tinha um dos nomes que tinha imaginado para ela.

* o nome aqui usado não corresponde ao nome real.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Praia na Piscina


Já alguém disse aos nuestros amigos espanholitos que em Aveiro existem imensas praias?

Que não precisam de ficar na piscina do hotel a fazer praia?

Boias, braçadeiras e mergulhos...

domingo, 18 de abril de 2010

Filha burlona


Um destes dias, estava eu no local do costume à hora do costume, quando fui testemunha de uma burla.

Um casal de 3ªidade, vítimas comuns deste tipo de crimes, estava a ser enganado.

A pessoa tentava surripiar uma assinatura num contracto de uma conhecida operadora de telecomunicações.

Ouvindo cada argumento, eu pensava: "coitados dos velhotes... como não hão-de ser burlados por qualquer um que lhes bata à porta se os próprios filhos os tentam ludibriar..."

Isso mesmo, quem tentava tirar a ferros a assinatura era a própria filha. A desculpa era acima de qualquer suspeita, apenas tentava escolher um telemóvel para o pai. O argumento era que, ao assinar o contracto, o telemóvel reduzia 200€ ao seu valor de mercado. Mas o que os pais não percebiam era porque haviam de ficar com banda larga e um portátil...

"Oh mãe mas este telemóvel na loja custa p'ra cima de 300€..." - dizia ela com voz imperativa.

"Isto quanto é em contos?" - perguntava a mãe ainda com dificuldades de adaptação ao euro e sempre a tentar fazer conversões de moeda antes de qualquer compra.

"Mas ele não precisa disso assim." - justificava a mãe.

"Mas isso é bom p'ra ele tem 3 mega pixas" - tentava convercer a moça que queria o melhor para o seu paizinho.

"3 mega pixas, mãe!!!"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nó no cérebro


Um destes dias estava agradavelmente ouvindo a minha rádio favorita quando me deu um nó no cérebro... tinha acabo de ouvir que afinal as drogas eram boas.
Teria ouvido bem?
Teria entendido bem?
Como sempre, dei o beneficio da dúvida e esperei ansiosamente pelo podcast. Queria confirmar. Validar. Poderia ter apanhado a conversa a meio e, fora do contexto, algumas frases tomam um sentido completamente diferente.
Oh não... :(
Ele realmente tinha dito que adorava erva, haxixe e cocaína. E até fez questão de recordar uma frase proferida em tempos por um escritor/jornalista português: "a droga não é má, a droga é boa...".
Bolas!! Fiquei tão ... (nem sei que adjectivo utilizar)!
Notem, eu considero-me bastante open-minded e sei perfeitamente como as drogas são utilizadas/consumidas hoje em dia, mas daí até promovê-las a coisas boas?!?... As drogas são perigosas!
Além disso, tenho idade ou talvez maturidade para perceber que, pelo facto que um artísta (cujos trabalhos adoro) dizer isso, não o vou seguir. Não vou tomá-lo como exemplo. Mas eu já fui teenager e sei que nestas idades, os nossos ídolos, os artístas que admiramos são uma imagem daquilo que queremos ser.
Ainda mal tinha acabado o programa, quando na mesma estação ouço a publicidade de uma iniciativa destinada aos jovens, com objectivo de prevenir a toxicodependência através de desportos radicais urbanos. O nome do projecto: Tour Agarra a Vida.
Nó no cérebro?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Restautantes para anafadinhos


Não é preciso ser um crítico gastronómico para conseguir perceber que existem pelo menos 2 categorias de restaurantes: os enfarda-brutos e os sofisticados.
Na 1ªcategoria estão os restaurantes onde tipicamente se paga pouco e se come muito. São casas de fazer comida em doses industriais. Pede-se 1 dose e vem comida para 3 pessoas que comam porções nas DDR (*doses diárias recomendadas). Ou então, há os self-services. Estes sim, são o delírio de qualquer anafadinho que se preze.
Para começar, paga-se à cabeça uma entrada. Preço fixo, direito a tudo.
Que mais, alguém gordinho-bom-guarfo, pode querer?
Mesa de entradas e frios: um verdadeiro bufete de salgadinhos e fritinhos, desde rissóizinhos a patinhas de leitãozinho. Caldeirões de sopa engrossadas com farinha ou muitas batatinhas. Bufete de quentes: uma boa chanfanazinha, um bacalhau com muitas natinhas ou a coisa mais engordativa que possam imaginar. Por fim, a delícia dos gulosos: um rodízio de doces.
Eu abomino este sítios :)
Então lá ha um dia em que não o consigo convencer que aqueles sítios são o demo das pessoas sãos sem colesterol.
Nesses dias, aproveito para ver coisas engraçadas do tipo mulheres enormes que precisam de 2 cadeiras para minimamente sentarem o seu rabiosque ou vitimas de hemorróidas que teimam frequentar estes sítios munidas da sua fiel amiga bóia.
Outra presença habitual é o casal domingueiro que abanca no bufete às 6 da tarde, terminando de enfardar às 8 da noite.
Não me posso esquecer de um personagem especial, um dos donos destes sítios que aqui falo, é alguém muito carismático. Ele é o domador da terrível tesoura pneumática corta leitões. Lá arrasta ele a sua obesidade para pé do balcão dos leitões, e agarra a sua ferramenta. Vira e mais uma costeleta, mais uma pata e já estão 3 medalhas no seu polozito azul bébé.

E com isto tudo, só há uma coisa em que nos ganham: diz-se que eles são mais felizes!



domingo, 4 de abril de 2010

Menina da bandolete


A minha infância trás-me sempre à memória histórias fantásticas...
Por estes dias estava com a minha bandolete Evita Peroni e lembrei-me de uma delas.
Se não estou em erro, a moda das bandoletes voltou em força no ano passado. E eu, seguidora assídua das tendências sazonais, comprei uma.
De facto, há que reconhecer a utilidade deste acessório para o cabelo, por isso, podiam ter-lhe dado um nome mais jeitoso. E, bem bom usar-mos a palavra "bandolete", porque segundo acabei de ver na wikipedia, podíamos dizer qualquer coisa como: "hoje vou combinar a minha roupita com uma testeira Louis Vuitton" :D ou então: "estou a pensar que, esta camisola ficará bem com a minha gigolete Dior". Gigolete?!? Testeira?!?!
Quando menina de escola, dinheiro era coisa que não abundava, pelo que, não havia margem para grandes estravagâncias. Um dia, recebi de alguém emigrado na América, um monte de ganchos de cabelo e aí uma dúzia de bandoletes. Lembro-me tão bem. Os ganchos eram de plástico e haviam de todas as cores. Amei-os mas, o meu farto cabelo era demais para eles. Para os usar tinha de fazer madeixas aí de 3 fios de cabelo. Assim, não me foram muito úteis. Usei-os nas bonecas.
As bandoletes eram de baclite e havia uma de cada cor.
Nessa altura, ainda tinha idade de partilhar brincadeira com o meu irmão mais novo 3 anos. Eu era a Barbie, ele o Ken (fictício pois eu só tinha a Barbie). Dos carrinhos dele, escolhia a frota para a minha Barbie e ele, fazia o mesmo para o seu personagem.
Como bons namorados que eram, a dada altura a Barbie convidava o Ken para jantar na sua casa, mas lá, na sua super agenda, por vezes ele não podia. E pronto, qual discussão conjugal, aquilo era uma verdadeira luta na qual o meu irmão acertava-me em cheio no meio da cabeça. Apenas sentia, os piquinhos da bandolete magoarem-me o couro cabeludo e, da minha preciosa bandolete, voavam 2 partes iguais, uma para cada lado.
Seguiam-se choros e gritos.

Sinfonia Pascal


Hoje, domingo de Páscoa, despertei com uma estridente fanfarra que percorria as ruas. Fechei os olhos e imaginei o som cada vez mais longe e desejei que não voltasse. Lembrei-me que, no ano anterior me tinham tocado à campainha e só me restava esperar. À medida que o som se aproximava, ia visualizando o percurso que faziam, as casas em que paravam. Dali a nada teria de me levantar e ir à porta?...
E, nem mais, toca a campainha a juntar-se ao som da corneta... socorrrrroooooooooooo.
Não sei qual pior, qual perfura-me mais fundo os tímpanos. Logo, sou levada a outra questão: alguém escolhe o som das suas campaínhas de casa? Será um dos acabamentos possíveis de seleccionar, tal qual os pavimentos ou madeiras?
Voltei para a cama, mas já tudo estava perdido.
Esfriou e o sono fugiu com tamanha barulheira no meio de um domingo Santo e de paz.
Foi então que me lembrei de um episódio da minha infância, fui testemunha ocular de um crime grave. Agora que se fala tanto da hipocrisia do clérigo, nem de propósito.
Por uma das festas lá da terra, devia ter eu os meus 9 ou 10 anitos, acordei exactamente da mesma forma que hoje. Errado, havia uma diferença, a campainha não tinha um som eletrónico. Fazia "dim-dom".
Os meus pais foram à porta e entregaram um envelope branco. Cá em cima, eu saía da cama e tinha ido à janela matar a minha curiosidade. Foi aí que assisti!! O homem da recolha, ainda consigo ver a sua cara e melhor ainda a sua careca, abria a saca bordeaux debruada a ouro e metia o envelope vazio, no seu bolso já cantava o conteúdo. Fiquei indignada e escandalizada.
E pronto, foi assim que patrocionei 0,005 g de pólvora para os foguetes desta tarde.

terça-feira, 30 de março de 2010

Regresso à Universidade


Hoje, vivi uma experiência que não poderia deixar de narrar.

Por um lado, para poder recordar sempre, por outro, para poder alimentar a minha auto-estima. Quem sabe, também, não possa ajudar alguém que esteja a passar pelas mesmas dúvidas.

No âmbito do meu trabalho, fui convidada a ir à Universidade assistir à apresentação de um projecto e quem sabe, estabelecer contactos para uma parceria. De repente, vi-me a entrar no mesmo edifício onde uns anos antes era finalista a fazer o projecto final de curso.

Incrivelmente e ao contrário do que era espectável, não me senti ansiosa. Talvez não tivesse tido tempo para isso ou simplesmente, gostei de lá estar.

A primeira pessoa que vi e reconheci, foi a recepcionista da Securitas. No meu tempo de estudante, ela era novita, apontava para uns 19 anos, muito gira e simpática. Hoje encontrei a versão large dela e um sorriso menos satisfeito do que aquele que tinha na altura. No entanto, continua a ser muito bonita.

Pensamento imediato: "bolas, isto de crescer para os lados, acontece a toda a gente à medida que vai envelhecendo".

Por estúpido que pareça, embora um pensamento natural na minha cabeça de "candidata a magra", uma das coisas que me incomoda é encontrar alguém que já não vejo há algum tempo e imaginar que esse alguém esteja a pensar "ela era ... mas agora está tão gordinha".

A minha auto-estima melhorou aí uns 30%.

Depois entrei no anfiteatro onde fui apresentada como convidada.

Eu? Euzinha da Silva?

Afinal aquela que nunca se julgou capaz de tirar o curso estava ali a assistir uma apresentação de um projecto inovação e com direito a opinar e tudo.

Incrível, pensei... já estive no lugar daqueles alunos e nunca imaginei poder estar na plateia.

Acumulei mais 30%.

A exposição de power points continuou e fui me sentindo cada vez mais em casa.

Por um momento, revi o pânico que sentia em cada exame, o número infinito de vezes que acreditei ter que desistir da licenciatura por não a conseguir terminar, os apertos de estomago do projecto de final de curso, o medo de seguir a profissão de analísta/programadora, o receio de ser despedida quando resolvi tentar, ...

Olhei para mim e vi-me ali!

Up to 100% :)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Mau humor, péssimo


O que nos pode deixar de mau, de péssimo humor numa 2ªfeira de manhã?

É simples... ir à balança após um fds super agradável onde fizemos as vontades gastronómicas dos outros e encontrar o número habitual inflacionado!!!

Que tortura!!! Apetecia-me ter voltado para a cama e esconder-me lá até ficar mais pequena, para que assim ninguém desse conta e eu não me sentisse enorme ao vestir-me.

Tudo porquê?

Porque resolvemos aceder ao pedido da mãe para experimentar aqueles hamburgueres famosos e logo no dia seguinte ter ido jantar à casa da melhor amiga.

É facto, eu não posso sair da linha nem 1 dia.

E agora? Quanto tempo irei precisar para voltar ao sítio?

Já para não falar que estamos na Páscoa e ainda nem uma amêndoa comi :( e eu adoro amêndoasssssss.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Reembolso do IRS, subsídio de férias e coisas do género


Por estes dias, todos (?) contribuintes portugueses têm de fazer o IRS.
Aposto que, um grande número destas pessoas não saberá que, IRS é o acrónimo para Rendimento das Pessoas Singulares. Mas, o que todos sabemos é que este ritual anual implica andar a organizar e somar a colecção de recibos/facturas que coleccionamos durante todo o ano anterior.
Sim! É um momento engraçado, o único do ano em que poderei ter alguma semelhança com uma contabilista de óculos e semblante carregado. Ainda assim, qualquer semelhança é pura coincidência...
Mas, fazer o IRS causa-me sentimentos diversos. Por um lado, olho para a folha de rendimentos da empresa e penso: "para onde foi este dinheiro todo??", por outro, fico ansiosamente a olhar para o resultado do simulador a ver se dá verde ou vermelho. Por verde, leia-se reembolso e isso sim, deixa-me bastante animada.
Ponho-me logo a fazer planos para aquele dinheirinho e estes muito raramente passam por conservá-lo.
Mas, acho que, este é o comportamento normal da maioria dos contribuintes portugueses, pelo menos, os da classe média-baixa. E isso trás-me algumas recordações.
Em minha casa sempre vi esperar-se por esta altura do ano ou pelos subsídio de férias/Natal para se poder concretizar uma compra mais avultada.
Na altura do Natal comentava com um colega o facto de estar à espera do subsídio para poder comprar as minhas prendas. Ele disse algo do género: "se eu precisasse do subsídio para comprar prendas, então não as comprava". No entender dele, uma pessoa nestas circunstâncias não tem uma situação financeira que a permita se dar ao luxo de comprar prendas.
Mas esta não é a realidade, por isso vamos lá esperar pela luz verde na conta :)

sábado, 13 de março de 2010

Figuinhos passados e nozes



Um destes dias fui a uma sessão de esclarecimento sobre um método de emagrecimento baseado em acupunctura. Isso mesmo, aquilo de enfiar agulhas no corpo.
Fiquei convencida com a tese exposta mas também ficou claro que, tal como em qualquer método, emagrecer tem como pré-requisito uma força de vontade enorme, alimentação em condições e mecher os pézinhos.
Como aquilo era grátis, eramos aviadas aos pares e tive uma companheira de sessão fantástica. Ela encarnava sem pôr nem tirar o estereotipo da mulher-gordinha-porque-está-sempre-a-dar-ao-dente.
Após a explicação do método, o doutor perguntou se tinhamos questões. Segundos depois ter-se-à arrependido quando a mulher sacou do seu rol de perguntas, disse ela ter elaborado na noite anterior com medo da sua fraca memória.
"Ora bem Doutor... tinha pensado começar por lhe explicar os meus hábitos alimentares. Logo de manhã... ao almoço... e as batatinhas... portanto, como vê, como bastante bem."
"Tudo bem, mas isso terá de ser avaliado tudo em consulta, se quiser avançar com o método e comprar o nosso pacote", responde o médico deserto para avançar para a próxima sessão da agenda.
"Mas eu agora também tenho outro problema. É que estou enorme da cintura p'ra cima. Sabe, é tudo culpa do aparelho que uso para a apneia do sono.", avançava ela nas suas justificações.
Uma vez alguém me disse, "socialmente parece melhor dizer-se que se está gordo devido a uma doença do que por se gostar de comer". É verdade! E a senhora em causa, assim o comprovava.
"Ah e ao jantar só como uma sopa e uma peça de fruta. Já se sabe, é que, é quase sempre de feijão que, eu adoro. Mas a culpa é da minha empregada que me faz sempre um panelão. Mas também acho que não deve fazer muito mal. Que acha Sr. Doutor?"
"Feijão não convém, minha Senhora."
"Então mas as leguminosas também são precisas! E, até porque, é só uma tacinha de feijão e aquilo leva tanta água, fica tão diluido."
O médico, já extenuado e a precisar de uma sessãozita de agulhas relaxantes, pergunta-lhe: "Oh minha senhora, então se é assim, como é que engorda?!?"
"Sabe Doutor, o meu mal é à noite. Enquanto estou a ver um bocadito de televisão para descansar, tenho de roer sempre qualquer coisa. E sabe, em minha casa tenho figos passados e noze,s todo o ano. Então lá vou comendo uns figuitos e umas nozes..."

Transportes públicos - cap. II


Sobre quando alguém novo invade o território...

Já falei da comunidade da linha 5 mas ainda não vos disse o quanto são unidos. Alguns nem se falam ou apenas se conhecem de vista mas sabem tratar-se de um dos deles, um dos ocupantes da carreira da linha 5. É habitual ouvir coisas do tipo "aquela que costuma a vir às nove menos dez", para se referirem a um dos membros.
Quando tentei penetrar na comunidade, sofri várias discriminações dignas de registo. Olhavam-me de alto a baixo, de baixo ao alto, examinando cada pormenor de mim. Creio que, não terá escapado cm2.
Mas eu lá continuei dia após dia, no horário do costume.
A comunidade ficou intrigada. "Afinal não foi esporádico?", "O quê, ela vai outra vez com o nosso motorista?", "Aquilo ontem não se tratou de um engano?"
Então havia que perceber melhor quem seria esta intrusa...
Começam as perseguições. Membros da comunidade tentam perceber o meu caminho, de onde venho, para que lados é.
A intrusa não se assusta e persiste. Continua a ocupar um lugar na carreira e agora vem armada, já trás o horário. Medo na comunidade.
Então nomeiam alguém para a primeira abordagem: "é daqui?", "mas é estrangeira não é?", "como veio aqui parar?".
E pronto, já não tinham como se livrar da intrusa, não seria uma presença passageira, ela tinha vindo para ficar. Tem mesmo uma casa aqui e não é arrendada.
Se temos de levar com ela, um bocadinho de amizade não fará mal, pensaram alguns membros.
Então começam a haver conversas circunstânciais.
Um membro mais afoito, só podia ser do sexo feminino, não resiste ao meu charme e todos os dias lança um comentário simpático sobre as minhas fatiotas.
"Esta gasta tudo nos trapitos e depois tem de andar de autocarro como nós", certamente terá pensado. Afinal gaja que é gaja, lança sempre um comentário malicioso. "Mas o resultado é bom". "E onde comprará estas coisas?"
E esse último foi o pensamento que esta presada e pesada moça da comunidade não poderia ter tido pois logo de seguida, cusca como é, lhe permitiu perguntar-me: "onde compraste esse saco tão jeitoso?"
O que se diz numa situação dessas quando de está a falar de um saco que custa nada mais nada menos que metade do vencimento da curiosa?
E lá continuava ela, "dava para levar a bata e os chinelos para o trabalho", enquanto pensava eu o que havia de responder...

Transportes públicos - cap. I

E por falar em mulheres que usam o autocarro como a maioria usa o carro...

Um grupo de amigas costumava ir todas as manhãs juntas para o trabalho. Cada uma entrava na sua paragem e lá se iam agrupando em 4 bancos, 2 de costas para o motorista e outros 2 voltados para a frente. Cada uma já tinha o seu lugar marcado, uma enjoava se fosse de costas para o condutor, outra seria a primeira a sair e outra era a última a entrar. A 4ª ficava com o lugar que restava.
Nenhuma delas tinha um percurso de vida fácil e isso era algo que não precisavam partilhar, estava tatuado nas suas expressões.
Uma dessas raparigas, mãe de dois filhos e com um irmão de péssimo aspecto. Várias vezes se ouvia sobre tentar pôr-lhe algum juízo.
Para outra, aquela era a 2ªcarreira do dia. Apanhava uma antes para levar o filho ao infantário e depois ali esperava pela próxima, para ir trabalhar. Essa vinha sempre já meio desgastada, já meio transpirada e desfraldada. Não era para menos, ela já tinha feito a primeira maratona do dia.
A 3ª estava grávida e era mãe solteira. Com todo o peso que isso pode ter, ela era uma grávida linda, serena e transmitia uma força incrível. Muitas vezes recusava o lugar que alguém lhe queria dar, outras oferecia o seu lugar a alguém mais débil. Sobre andar de costas voltadas para o motorista, esse lugar que ninguém gostava, ela dizia que nem a gravidez lhe tinha feito enjoar quanto mais isso. Todos os dias fazia questão de lhe dar bom dia, fazia questão de olhar para a sua barriga que crescia a um ritmo alucinante e de lhe segredar em silêncio: "admiro-te".
A última, tal como o lugar que apanhava, parecia estar ali por acaso, era alguém com pouco interesse.
4 mulheres, 3 vidas interessantes, 3 exemplos de força para mim.

O mais impressionante: ali não se ouviam lamúrias, nem queixumes.
E eu com tanto mais que elas, com uma vida tão mais fácil porque tanto me queixava/queixo?!?

Durante 3 meses deixei de apanhar o autocarro, nesse tempo nasceu a Erika, nesse tempo a dos enjoos ficou desempregada.

Espero que tudo lhes corra bem...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Transportes públicos - intro


Andar de transportes públicos permite-nos experiências maravilhosas e algumas aventuras.
Quem anda um dia por outro não consegue entrar nesse espírito de partilha ao invés de quem apanha a mesma carreira dia após dia. Aí sim, vemos todos dias as mesmas caras e começamos a fazer parte da vida uns dos outros. E isso acontece por fases: há a fase do bom dia, em que apenas as pessoas tentam ser educadas; há a fase do tempo, em que começa a haver uma certa empatia por alguém; e seguem-se as perguntas mais pessoais em que se pretende saber quem é aquela pessoa.
Interessantes também são as pequenas conversas cruzadas que se apanham entre paragens. Essas sim, abrem grandes janelas em que a imaginação tem muito por onde se expandir.
Apanhamos desde dores ciáticas, críticas gastronómicas e os muito frequentes, cortes na casaca.
Claro que, tudo depende da hora da carreira o que condiciona a faixa etária dos ocupantes.

Mas toda essa estória para partilhar o que se aprende nos autocarros.
Quando tive que deixar o luxo de andar de ligeiro e passar a pesados, sentia-me a pior do mundo. Que mau que isso era, como poderia sobreviver a tal coisa, e a indumentária? certamente que teria de ser alterada, saltos seriam complicados para andar até à paragem e desafiar os degraus!
Todas essas afirmações ou pensamentos tornam-se ridículos quando percebo que existem mulheres a fazerem toda a sua vida de autocarro.

terça-feira, 9 de março de 2010

Janelas do Imaginário

Adoro observar as pessoas e imaginar as suas histórias.
Enquadrá-las num cenário recambolesco q.b. que me divirta e sirva de alento para perceber o quanto a minha própria vida é fantástica.
Comecei a sentir necessidade de registar estas janelas em que dou largas ao meu imaginário e criatividade.
Aqui ficam essas estórias.
 
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