sábado, 27 de novembro de 2010

Sair da zona de conforto

A 2ªgrande batalha da semana era já esperada há umas semanas. Havia uma ansiedade enorme dentro de mim.

Chegou o dia, chegou a hora e lá estive.

Fiz perguntas parvas e afirmações piores.

Nessas alturas deviamos engolir um dicionário para as palavras não faltarem e beber uma dose de desentupidor de canos para fluirem sem engasgos.

A certa altura o meu interlocutor deve-se ter apercebido que eu não estava nada contente com isso de me puxarem o tapete e lançou algo tipo cliché mas com muito que se lhe diga:

"é preciso sair da zona de conforto"

Eis algo fundamental nos dias que correm, deixou de haver espaço para pessoas conformadas, monocórdicas por melhor que seja o seu dó.

Querem-se pessoas que ciclicamente se inconformem e desejem outro nível de entropia para dominar e organizar.

Apesar de ter um medo de morte de cair na categoria dos monotons e portanto, estar condenada por esta frase, não posso deixar de lhe achar piada e sentido.

Realmente, se pensarmos bem: serão vencedores os ousados ou os acomodados?

Dia de cabeludos


Acordo de uma espera interminável com a manifestação de descontentamento de alguém que partilha comigo a sala. Esta estava cheia de pessoas de meia idade que encaixam sem pôr nem tirar em figuras de domésticas e camponeses. Consigo ver no rosto de uma delas a preocupação da hora de almoço a aproximar-se. Neles, a falta do tabaquito aumenta-lhes a velocidade e o número de vezes que percorrem o pequeno corredor, dando mais voltas sobre si próprios que as bailarinas de uma caixa de música.

"3 na pá!"

"3!" - afirmava ele num misto de fúria com desprezo.

Olho em frente, vejo o Jorge Jesus na televisão e percebo que está a comentar a notícia do jogo do Befica. Mais uma derrota para a Liga dos Campeões 2010/11.

"Cabeludo, és um cabeludo pá!"

"Só tens mesmo é cabelo home, mai nada!" -cuspia cá para fora como se estivesse a morrer de nojo da criatura.

À minha esquerda, uma senhora de cabelos longos untuosos e bibe, olha de lado para ele. Na cabeça dela estavam 1000 promessas que mais um insulto e salta-lhe em cima.

Salvos pela chamada para a consulta. Desfez-se o clima tempestuoso.

Mas eu ainda mal sabia o que me esperava... mais encontros com cabeludos.

Porque no Centro de Saúde só temos 1/2 hora de urgências e nem sempre conseguimos que as nossas doenças tenham a pontualidade necessária, dirijo-me para uma clínica privada.

Após mais uma longa espera, mas desta vez tranquila, encontro o cabeludo mais engraçado do dia - o médico.

Com cabelo grisalho, maior e mais volumoso do que o do J. Jesus, ainda poderia competir com este pela disputa de um 1ºlugar numa edição qualquer de cabelos Pantene para homens maduros.

Andava em bicos de pés e parece que saltiva pelo consultório enquanto eu repetia os meus males.

Mas estava condenada, aliás como quase sempre estou quando após proferir a 1ªpalavra identificam as minhas origens.

Lá passamos a minha consulta a ouvir a vida dele. Os anos que viveu na minha terra, os amigos que lá deixou , os paises que conheceu e que não se comparam...

"Sim, porque eu conheço o Mundo!"

"Por isso, posso afirmar que é o sítio mais lindo do Mundo!"



 
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