domingo, 2 de maio de 2010

Chinelos de morango


Este sabádo consegui concretizar o desejo que tinha já há algum tempo de ver o filme "O rapaz de pijama às riscas".

Longe de mim querer fazer qualquer critica cinematográfica, para isso existem peritos. Apenas posso dizer o quanto a estória é linda, embora nos recorde a crueldade do ser humano e uma época da nossa história que não devia ter acontecido.

O filme começa com uma frase que achei estupenda:

"Childhood is a measured out by sounds and smells and sights, before the dark hour of reason grows " - John Betjeman

É tão difícil encontrar as palavras certas para expressar sentimentos ou situações, mas esta frase consegue-o!

E sobre cheiros da nossa infância estes ficam cá p'ra sempre...


Na minha casa havia um armário na cozinha que se destinava a ser a farmácia da família. Lá podiamos encontrar desde as habituais aspirinas, até às saquetas com papa de giz para forrar o estomâgo da minha mãe ou as cápsulas de óleo de fígado de bacalhau do meu pai. Sim, ele tomava religiosamente as suas cápsulas esperando assim garantir mais uns anitos por cá. Lembro-me de ouvir a minha mãe repetir milhares de vezes: "ah tu não vais morrer! Ficas cá p'ra semente!"

Nessa altura, minha mãe era muito dada à arte culinária e doçaria. Fazia-nos bolos de aniversários que impressionavam qualquer pasteleiro de barrete branco.

Tive um Snoopy, uma Barbie. No Natal haviam sinos ou árvores. O meu irmão teve a cidade dos estrunfes com casinha de cogumelo e tudo, um palhaço e outros tantos.

Creio que numa dessas empreitadas ela deve ter precisado de aroma de morango. Então como não gastou tudo, guardou o fransquinho junto dos remédios.

Desajeitados como são os homens, o meu pai numa das vezes que ia à sua cura milagrosa, derrubou o fransquinho que caiu no chão da cozinha e se partiu em mil niscas.

Ele ainda estava de chinelos, eram aquele modelo clássico que homem que imitam cabedal e por isso ficaram impregnados de aroma de morango.

A partir desse dia, eu e o meu irmão achavamos muita piada aos chinelos do meu pai que cheiravam sempre a morango!

Periodicamente lá iamos snifando os chinelos, mas não havia chulé que lhe pegasse, eles cheiraram sempre a morango até ao fim dos seus dias...

0 comentários:

Enviar um comentário

 
Copyright 2010 Janelas do Imaginário. Powered by Blogger
Blogger Templates created by DeluxeTemplates.net
Wordpress by Wpthemescreator
Blogger Showcase