quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A minha língua é português,
o meu sotaque é açoriano.

Acho que estou a ficar viciada em ti, meu querido blog.
Várias vezes ao dia, puxo do meu bloco de notas e escrevo uma série de tópicos para janelas novas.
Hoje não foi exceção. Que dia de correria...
Despertador tocou às 6h15 e não me consegui levantar pois esta noite fartei-me de fazer km na cama. Fiquei mais 5 minutos, mas afinal tinha passado 1 hora!!! Levantei a correr, lavei-me à gato, vesti-me sem preceito e lá fui.
Fila na Arrábida, estacionamento no parque da Casa da Música. E depois mesmo ao lado do consulado levei 30 minutos p'ra atinar com a porta. Raios!
Senha E021 Autenticação de Documentos.
"Sala de espera, por favor. Simm, aquela ali ao fundo."
Á esquerda, debaixo do A/C, um poster de uma fotografio do Rio de Janeiro. Já sem cor, em vez de retratar o lindo dia de sol, transmite-nos a sensação do lusco fusco do anoitecer.
Á direita, o mapa do Brasil e o de Portugal. Humm,,, Será para nos mostrar a pacata aldeia de onde pretendemos sair versus a assustadora dimensão do país desconhecido para onde pretendemos ir?
Medo....
A sala parece saída de uma escola de condução, com as cadeiras de tábua para escrever.
Olho em redor.
Pessoas de todas idades mas em comum a aparência humilde.
Pessoas de todas as cores, diferentes nacionalidades. Uma russa. Bolas, que estão por toda a parte!
De onde vieram? Onde estiveram? Porque vão partir?
Abro janelas e ponho-me a imaginar a vida de cada um dos meus companheiros desta manhã.
O que mais me custa são as crianças. Ainda não devem ter percebido muito bem o que significa estarem ali. Será que sabem que vão ter que mudar de escolinha, falar uma língua diferente e fazer novos amigos de recreio?
Tenho um frio enorme no estômago e a sensação que antecede um ataque de pânico.
Tento me acalmar e pensar que, é isto que eu quero mas que também é natural estar nervosa.
Os números das senhas para cada guiché não avançam e portanto é melhor me mentalizar que a manhã será toda aqui.
SMS para o trabalho: "corrige os defects com prioridade blocker"
SMS para a Fernanda: "...e que Deus me proteja."
Faltam 11 números para ser atendida.
Lembro-me novamente dos emigrantes da minha terra. Geralmente um dos cônjuge ia na frente. Depois quando perguntavamos ao outro como estava, a resposta era "á espera da carta de chamada". Será que se referiam ao visto de reunião familiar?
E de repente vejo que há prioridade para idosos, deficientes, grávidas e pessoas com crianças de colo.
"E se dissesses que estás grávida?? Despachavas já isso e ainda ias espreitar aquela sapataria linda de morrer que passamos de carro." - diz o diabinho.
"Vá deixa-te dessas manias e espera como os outros" - diz o anjinho.
SMS da Fernanda: "Vai tudo correr bem! Estou contigo!"
Aí! Custa-me estar aqui sozinha!
Entra uma rapariga portuguesa trajada. Consigo distingui-las pela corte dos passaportes.
Será que estamos assim tão mal? Ainda nem acabou o curso e já vai tentar ir trabalhar para o estrangeiro?
Entram uns senhores portugueses e sentam perto de mim e de uma senhora brasileira. Começam a conversar. Eu vou ouvindo.
Ela explica que apesar dos números apontarem para 190 milhões está convencida de ultrapassarem os 200 pois os sensos lá não são obrigatórios e a muita gente não abre a porta. Isto já para não falar dos emigrantes ilegais, argumenta.
"Em São Paulo estamos na rua e ouvem-se todas as línguas, não há uma única que não se fale lá."
"Já no Rio, não é assim não."
Eu vou ser mais uma nas ruas de São Paulo.
A minha língua é português.
O meu sotaque é açoriano.


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