sábado, 13 de março de 2010

Transportes públicos - cap. I

E por falar em mulheres que usam o autocarro como a maioria usa o carro...

Um grupo de amigas costumava ir todas as manhãs juntas para o trabalho. Cada uma entrava na sua paragem e lá se iam agrupando em 4 bancos, 2 de costas para o motorista e outros 2 voltados para a frente. Cada uma já tinha o seu lugar marcado, uma enjoava se fosse de costas para o condutor, outra seria a primeira a sair e outra era a última a entrar. A 4ª ficava com o lugar que restava.
Nenhuma delas tinha um percurso de vida fácil e isso era algo que não precisavam partilhar, estava tatuado nas suas expressões.
Uma dessas raparigas, mãe de dois filhos e com um irmão de péssimo aspecto. Várias vezes se ouvia sobre tentar pôr-lhe algum juízo.
Para outra, aquela era a 2ªcarreira do dia. Apanhava uma antes para levar o filho ao infantário e depois ali esperava pela próxima, para ir trabalhar. Essa vinha sempre já meio desgastada, já meio transpirada e desfraldada. Não era para menos, ela já tinha feito a primeira maratona do dia.
A 3ª estava grávida e era mãe solteira. Com todo o peso que isso pode ter, ela era uma grávida linda, serena e transmitia uma força incrível. Muitas vezes recusava o lugar que alguém lhe queria dar, outras oferecia o seu lugar a alguém mais débil. Sobre andar de costas voltadas para o motorista, esse lugar que ninguém gostava, ela dizia que nem a gravidez lhe tinha feito enjoar quanto mais isso. Todos os dias fazia questão de lhe dar bom dia, fazia questão de olhar para a sua barriga que crescia a um ritmo alucinante e de lhe segredar em silêncio: "admiro-te".
A última, tal como o lugar que apanhava, parecia estar ali por acaso, era alguém com pouco interesse.
4 mulheres, 3 vidas interessantes, 3 exemplos de força para mim.

O mais impressionante: ali não se ouviam lamúrias, nem queixumes.
E eu com tanto mais que elas, com uma vida tão mais fácil porque tanto me queixava/queixo?!?

Durante 3 meses deixei de apanhar o autocarro, nesse tempo nasceu a Erika, nesse tempo a dos enjoos ficou desempregada.

Espero que tudo lhes corra bem...

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