domingo, 4 de abril de 2010

Sinfonia Pascal


Hoje, domingo de Páscoa, despertei com uma estridente fanfarra que percorria as ruas. Fechei os olhos e imaginei o som cada vez mais longe e desejei que não voltasse. Lembrei-me que, no ano anterior me tinham tocado à campainha e só me restava esperar. À medida que o som se aproximava, ia visualizando o percurso que faziam, as casas em que paravam. Dali a nada teria de me levantar e ir à porta?...
E, nem mais, toca a campainha a juntar-se ao som da corneta... socorrrrroooooooooooo.
Não sei qual pior, qual perfura-me mais fundo os tímpanos. Logo, sou levada a outra questão: alguém escolhe o som das suas campaínhas de casa? Será um dos acabamentos possíveis de seleccionar, tal qual os pavimentos ou madeiras?
Voltei para a cama, mas já tudo estava perdido.
Esfriou e o sono fugiu com tamanha barulheira no meio de um domingo Santo e de paz.
Foi então que me lembrei de um episódio da minha infância, fui testemunha ocular de um crime grave. Agora que se fala tanto da hipocrisia do clérigo, nem de propósito.
Por uma das festas lá da terra, devia ter eu os meus 9 ou 10 anitos, acordei exactamente da mesma forma que hoje. Errado, havia uma diferença, a campainha não tinha um som eletrónico. Fazia "dim-dom".
Os meus pais foram à porta e entregaram um envelope branco. Cá em cima, eu saía da cama e tinha ido à janela matar a minha curiosidade. Foi aí que assisti!! O homem da recolha, ainda consigo ver a sua cara e melhor ainda a sua careca, abria a saca bordeaux debruada a ouro e metia o envelope vazio, no seu bolso já cantava o conteúdo. Fiquei indignada e escandalizada.
E pronto, foi assim que patrocionei 0,005 g de pólvora para os foguetes desta tarde.

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