segunda-feira, 2 de abril de 2012

A viagem


Estou na oitava hora de voo das dez totais.
Faltam 1:29 para o destino.
Já sobrevoamos o Brasil. Pelo que vejo no mapa, entramos em Fortaleza e já passamos Salvador. Estamos quase a passar entre Brasília e o Rio de Janeiro (junto a Montes Claros).
Tanto esperei por este dia e finalmente ele chegou.
A viagem até agora correu muito bem, tirando a parte da dor de rabo que ninguém consegue evitar ou da sensação de total desconforto.
Já me levantei, já fui umas 3 vezes ao WC, já fiz a ginástica e os exercícios de relaxamento sugeridos no vídeo.
Ah... e será um erro convidar-me nos próximos tempos para ver filmes
Já vi a My Week With Marilyn, The Descendants, New Year's Eve e já passei pelos vários canais de música.
Já dormitei umas quantas vezes mas acordei sempre aos saltos a sonhar que estava a cair (não sei de onde).
Um dos meus truques para aguentar esta viagem é nunca ver as horas. Só é permitido quando já tiver passado metade do voo. Assim, uso o incentivo de estar quase e que a maior parte já passou.
Acho que posso fazer esta viagem muitas vezes mas não me estou a ver habituar à coisa.
Mas o que também me ajuda é ver que há sempre quem esteja pior que eu, leia-se mais nervoso.
Assustei-me quando a minha companheira de viagem tomou o comprimido do enjoo e pôs o saquinho à mão.
Sim, eu sou sugestionável e aí não me seria fácil.
Comecei logo a fazer cálculos mentais e a solução seria fugir para os 4 lugares no meio do avião que estão vagos.
Falo, falo mas também só consegui comer o lanche. O almoço nem toquei.
Mas correu tudo bem.

Em Aveiro são 20:16. A essa hora já tinha feito a aula de spinning e a de ABS (abdominais) e provavelmente estaria na banhoca, coisa que agora também me sabia bem :)
Em São Paulo são 16:16. O J. deve estar a ir para o aeroporto (já devia era lá estar e na linha da frente).
Em Pta Delgada são 19:16 e a minha mãe deve ter contado cada minuto deste dia. Tantas vezes pensei em ti mamy e no quanto seria bom conseguir mandar-te um SMS ou email para te dizer que estou bem.

Queria ter ido sozinha para o aeroporto. "Há coisas que uma mulher tem de fazer sozinha!" - dizia eu.
Recusei o J. vir a Portugal me buscar.
Mas afinal soube-me muito bem ter sido levada pela minha melhor amiga. Esteve toda a viagem a dar-me conselhos e força.
E claro, só abandonou o aeroporto depois de eu entrar para as gates. Não fosse a mulher se arrepender à última hora.

Vim toda a viagem a pensar em tudo o que as pessoas mais queridas me disseram e enchi-me de pensamentos muito positivos.
"A vida está-te a sorrir, está a dar-te a oportunidade que sempre pediste. Agarra-a!"
E é isso que vou fazer.
Tenho a oportunidade de começar do zero em todos os planos da minha vida.
Sou uma mulher de sorte só por isso pois muita gente não tem essa oportunidade.
E se vim, é para tentar a sério.
Estou aqui disponível para conseguir o que desejo. e certo que vai me dar trabalho e luta, mas não foi sempre assim na minha vida? Não consegui tudo o que tenho com esforço redobrado?

Custou-me muito despedir da minha mãe. É a 2ªvez que "saio de casa".
Aos 18 anos sai dos Açores e vim para Aveiro estudar. Não regressei.
Esperamos pela reforma para nos aproximar, para que pudesses partilhar o teu tempo entre eu e o mano. afinal troquei-te as voltas e voltei a despedir-me.
Mas sabes que não é uma despedida e que vamos poder continuar a nos ver. Terás é que vir por mais tempo de cada vez e com uma mala cheia de roupinha de Verão.

Alguém me dizia que tinha a certeza que eu ia conseguir. já tinha conseguido aos 18 anos.
E aí, sim. Aí foi dificil para caramba.
Eu vinda nos Açores na década de 90. Tinhamos acabado de ter acesso aos 4 canais portugueses pois até ali só viamos RTP Açores.
Nunca tinha saído de casa, conhecia tudo, todos me conheciam e portanto era um ambiente controlado.
O 1ºano passou mal e no 2ª quis desistir e regressar.
Até hoje agradeço a maldade dos meus pais por não me terem permitido.
Agradeço pois se tivesse desistido certamente não estava hoje num avião a caminho do Brasil para passar a um novo estágio da minha vida profossional.
Não quero dizer que não fosse mais feliz, até podia ser. Mas é certo que ficaria com o "se". E se não tivesse desisitido?
Os "ses" matam-me, consomem-me.

A nossa felicidade também é fazer os outros felizes.
E hoje tenho a certeza que vou fazer alguém muito feliz.

1 comentários:

Vera disse...

Oh! Tanta informação que (quase!) tive que reler tudo. :)

Ainda bem que correu tudo bem. Fiquei tão contente quando mandaste msg na 3a à noite! :) É normal que te tenha custado, é perfeitamente normal. Mas são os "ses" que tu falas. Eu acho que nós só nos devemos arrepender do que não tentamos, do que não fizemos tudo o que podíamos para conseguir. É mais ou menos como diz esta imagem: http://4.bp.blogspot.com/-RfK0PC6o8K8/TufJY3uLtdI/AAAAAAAABxs/8bovwSTQXrg/s1600/1311814043499638.jpg

:)

Sê feliz!

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